sábado, 1 de outubro de 2011

Ameaça ambiental em Soplin Vargas

No dia 27 de Setembro, realizou-se em Soplin Vargas uma Assembleia promovida pelo consórcio Perupetro e Petrobras, duas empresas petroleiras com vista à sensibilização das comunidades para aceitarem a invasão para procurar petróleo. Vieram representantes de todas as comunidades que pertencem a Soplin (kichua, secoya, uitoto e mestiça) para ouvirem o que tinham para dizer.




No dia anterior, reunimo-nos com a maioria dos "caciques" das comunidades para preparar o encontro do dia seguinte: surgiram muitas perguntas, muitas inquietações mas também uma sintonia: não queremos que as petroleiras invadam os nossos territórios!

Estas asembleias são verdadeiras feiras para vender,"bom e barato", o que pretendem. Referem apenas os benefícios (dinheiro e trabalho para muitos) que as comunidades vão receber, que o impacto ambiental será reduzido, que apenas vão investigar se há petróleo e só depois montam a base de extracção e ficam a explorar por (apenas!) 40 anos. As pessoas que representam as petroleiras são verdadeiros "mestres da persuasão" orientados para este tipo de encontros. Fazem questão de chegar acompanhados de brindes e com um bom lanche para todos que participam e outros que com curiosidade se aproximam.

Depois de largas explicações e demonstrações chega o momento da participação do povo, exposição de dúvidas e comentários ao que foi apresentado. Para tais momentos a metodologia adoptada foi um jogo de “Quiz”, ou seja, “vamos lá ver é quem sabe a resposta correcta e recebe um prémio!” Os tipos de perguntas foram: “Como se chama a empresa que representamos?”, “Como se chama o director da companhia Perupetro? e seguiram este tipo de questões (difíceis!).

Para a “inclusão” de todos os participantes foram distribuídos alguns documentos com dados estatísticos, gráficos e descrições técnicas a uma população maioritariamente analfabeta ou com o ensino básico, como é, infelizmente, a situação da população que pertence a Soplin Vargas. E ainda, mostraram imagens das contribuições que recebem as comunidades que acolhem as petroleiras: cursos de computadores e capacitação em motores de barcos.

Para verem até que nível tentam persuadir, deram um exemplo de um líder de comunidade que aceitou a entrada das petroleiras, recebeu estes cursos que oferecem e que já era presidente da câmara municipal de uma comunidade!

Porque é que se dão a "tanto trabalho" estas empresas?

No Perú, foi aprovada uma lei de consulta prévia das comunidades indigenas que basicamente obriga o estado a desenvolver um processo de diálogo para que as comunidades, devidamente informadas, possam dizer sim ou não, à apropriação dos seus territórios. Já expliquei atrás como estas empresas entendem a consulta prévia, e dessa forma tentam comprar as comunidades com promessas de uma vida melhor.

Ainda pior, são as notícias de instrumentalização de algumas pessoas que trabalham nas comunidades, (clicar para ver noticia) nomeadamente alguns professores, para serem vozes a favor da entrada das petroleiras no território, a troca de supostos subornos. O que indigna estas suspeitas, é o facto de a maioria dos professores não serem nativos dos lugares ou nem sequer indígenas, e estão a tentar favorecer os seus próprios interesses pessoais.

Não queremos terminar esta partilha sem antes referir que a defesa pela Amazónia vai muito além de Soplin Vargas e do Peru. São muitas as vozes que continuam a apelar ao bom senso, à defesa da natureza e de um futuro melhor para as próximas gerações. Este parece um discurso antigo, repetitivo e quem sabe, até cansativo, mas sem dúvida URGENTE!

A nossa posição como Missionários nesta selva e no meio desta causa, é de acompanhar aqueles que defendem a Natureza e, por meio do Evangelho, continuar a defender e a promover a Vida.