segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E chegou o Natal...


A tradição da Novena de Natal começa a implementar-se também em Soplín. Este anos começamos no dia 16 de Dezembro cheios de energia e otimismo!



Apesar de não parecer o mais importante, gostavamos de começar por partilhar uma das principais conquistas deste Natal: a reunião de preparação com as autoridades locais (aqui referem-se como autoridades todos os representantes das diferentes instituições), convocada pelo Presidente da Câmara Municipal, Manuel Flores.  E porque foi uma conquista? Porque pela primeira vez reuniram-se todas as autoridades com o objetivo de proporcionar ao povo de Soplín um verdadeiro espírito de Natal, e para o qual o papel da Igreja Católica foi relevante.
Quando pensamos na programação deste Natal apercebemo-nos que poderíamos estar a sonhar um pouco alto, eram diversas atividades, poucas pessoas para ajudar (nós os três), e num povo onde o “vou já” significa “depois vejo”. O nosso receio era preparar tudo e não chegar ninguém, ou aparecerem demasiados e não sermos capazes de dar conta do recado. 
Ora bem, o sonho era: 1) que cada criança fizesse o seu presépio em papel; 2) formar um coro missionário para apresentar um concerto na noite de natal; e 3) realizar a Novena em todos os bairros. E como o concretizamos? Então aqui vai...

Durante as manhãs estivemos com as crianças e jovens no salão principal do colégio (porque não cabíamos noutro lugar) onde cada um escolhia, pintava, cortava e montava o seu próprio presépio. Como devem imaginar ficaram todas delirantes, contudo, como viram que dava muito trabalho alguns só queriam pintar e aí começava a guerra, quem consegue pintar mais desenhos?! Claro que tentamos que todos fizessem com calma e bem, mas quem consegue controlar cerca de 30 crianças dos 3 aos 16 anos de idade? Um educador vinha mesmo a calhar! Se alguém quiser se juntar a nós no próximo ano, bem-vindo!
Aqui ficam algumas fotos desses momentos, assim como os bonitos resultados.


Durante as tarde decidimos juntar algumas crianças e jovens para formar um pequeno coro e apresentar algumas músicas de natal na noite de consoada, na praça principal. A maior dificuldade foi manter todos atentos durante os ensaios. É normal que as crianças se distraiam, mas não assim, de fato os professores têm razão para se queixar da falta de concentração crónica. Contudo isto é assunto para outra altura.
Os ensaios começaram sempre com um sumo ou uma doçaria que os arrebitasse. E depois vozes para fora...  Logo no primeiro ensaio demos conta de outro grande problema: o ritmo. Não que não houvesse, o desafio era que cada um tinha o seu, e era muito diferente do outro! Cantarem todos ao mesmo ritmo, ao mesmo tempo, a mesma música foi a conquista do ano! E vocês devem estar a perguntar: e instrumentos? Pois, também tivemos de arranjar uma solução para isso porque uma viola e um tambor (emprestado) não eram suficientes. Com a perícia do Copi na fraca internet de Soplín, conseguimos as pistas das músicas que queríamos. Chegamos a considerar colocar pista e áudio  mas não nos deixamos vencer pelo pessimismo inicial e conseguimos que fossem as próprias crianças a cantar! Finalmente, com músicas e vozes, só faltava a apresentação, e para isso tivemos a colaboração da Câmara Municipal que ofereceu uma t-shirt branca e um gorro de natal a cada um. E silêncio que se vai cantar...




Durante as nove noites realizou-se a novena. Infelizmente nem todos os bairros receberam a comunidade, uns por falta de luz, outros por falta de organização. A solução foi alternar, uns dias realizávamos nós na casa comunal, e outros dias íamos aos bairros (especificamente à casa de alguma família desse bairro). Devemos explicar que foi a primeira vez que as pessoas preparam a novena e receberam a comunidade nas suas casas.
Normalmente a novena é composta por algumas orações, com muitos cânticos de natal, e termina com a partilha de algo doce, neste caso o típico é chocolatada (água com chocolate) e pão. Mas fosse isso, fossem rebuçados ou pipocas, as crianças abriam sempre os bolsos e aproveitavam a camisola para levar o mais que pudessem!
Nos dias em que fomos nós a receber as pessoas na casa comunal, terminamos sempre com jogos tradicionais (o jogo das cadeiras foi o maior sucesso de toda a novena!).



Quanto às nossas atividades, felizmente conseguimos realizar todas e bem (com alguns improvisos claro!).
Finalmente chegada a noite de natal, realizamos a missa e o concerto na praça central, seguido da entrega de presentes para os mais pequenos a cargo da câmara municipal.
O concerto, momento alto da noite correu muito bem, apesar das dificuldades sonoras, as crianças e jovens não deixaram de cantar com toda a alegria e esforço. Os aplausos ao final eram a recompensa esperada.


Coro e Presidente da Câmara Municipal

Depois a festa continuou no Centro de Saúde onde se prepararou uma consoada peruana, muito saborosa por sinal!
O dia de natal foi igualmente vivido com alegria, começando com a celebração da eucaristia e um batizado de uma menina que se chama Viviana (bom gosto!), seguido do ato nacional, o içamento da bandeira, e terminou com um torneio de futebol infantil. 



Em relação ao torneio passamos a explicar que cada instituição formou a sua equipa, composta por rapazes e raparigas menores de 12 anos. Claro que o Copi não perdeu a oportunidade de formar a sua equipa: “Deportivo Consolata”. Infelizmente, apesar da boa vontade, não nos foi possível comprar equipamento para todos, contudo, para não ficarem diferentes dos outros, decidimos reutilizar as t-shirts do concerto. E até ficaram bonitinhas, com direito a número, nome personalizado e logotipo exclusivo! E sabem como terminou? GANHAMOS! VIVA O “DEPORTIVO CONSOLATA”. Um equipamento para todos foi o prémio final.


Este longo dia de Natal terminou da melhor maneira, de volta a Leguízamo (Colômbia), conseguimos nos juntar todos os missionários e missionárias que trabalhamos nesta zona, para celebrar o Natal em família e claro, à volta da mesa!




Visita Presidencial a Soplín Vargas

Numa altura de grandes festividades, o povo de Soplín Vargas recebeu no dia 14 de Dezembro, a visita do presidente da região Loreto, Ivan Enrique Vásquez Varela, à qual pertence Soplín Vargas. Com esta visita oficial chegaram muitas e boas noticias, algumas esperadas durante décadas. Quando algo semelhante acontece o povo veste-se a rigor, empunhando bandeiras da cor da região (branco e verde) e cartazes com pedidos das diversas comunidades, entre esses cartazes, alguns deixam-nos sem comentários: és grande e forte careca!


Mal se ouviu o hidroavião a chegar, todos correram para o porto para receber, com pompa e 
circunstância, o presidente. No momento da sua chegada, o povo recebeu-o com um grande aplauso e ao ritmo da “banda” do cacique Kichwa que animou o ambiente.  

                                     

Depois de um caloroso acolhimento pelas pessoas de Soplin e das diferentes comunidades mais distantes, que se fizeram presentes nesta festa, o presidente Ivan Vásquez, dirigiu algumas palavras de gratidão a todos os presentes e relembrou algumas das promessas para o «Município mais pobre da Região». 

Das diversas promessas destacam-se os planos de melhoramento da alimentação para combater os altos índices de desnutrição infantil, a implementação do programa "Techo digno" (telhado digno) que consiste no melhoramento das habitações de famílias mais carenciadas através da substituição dos telhados de palmeira por telhados de chapa ( para além de diminuir o numero de árvores que se abatem para a construção desses telhados, o telhado de chapa previne o aparecimento de insectos e outros animais prejudiciais à saúde, como por exemplo ratos.


Por outro lado, foi reiterada a promessa da construção de um aeródromo que irá possibilitar uma melhor comunicação entre o povo de Soplín e o resto do Perú, uma vez que o isolamento
é tem sido uma das causas do lento desenvolvimento deste município  Para terminar em grande, o presidente anunciou a notícia que o povo Kichwa tem esperado durante vários anos. Num acto solene, foram entregues Títulos de Propriedade a 6 comunidades, perfazendo um total aproximado de 22 mil hectares de território que passa a ser gerido pelos caciques (lideres) kichwa e restante comunidade. Com estes títulos este povo indígena adquire o direito de gerir o seu território e protegê-lo das principais ameaças ambientais contra as quais têm lutado: exploração de petróleo  minério e madeira. Finalmente podem viver de acordo com as suas tradições e crenças, nos seus territórios, tal como citou o presidente : dar ao povo o que é do povo.




A visita terminou com um grande almoço para todos! Volte rápido Sr. Presidente...

Avanços no terreno e Maloca!


Como diz o ditado, o Pai Natal quando vem é para todos, e isto significa que também fez uma visita a Soplín Vargas e deixou-nos alguns presentes no sapatinho. Depois de vários pedidos e requerimentos, a Câmara Municipal entregou-nos a Constância de Doação Definitiva do terreno destinado às atividades da Igreja Católica. O terreno tem 60mt de frente por 80mt de comprimento, com mais de metade da área plana e a restante com inclinação e claro, com muita erva daninha!
Assim que nos entregaram a constância, outra preocupação nos invadiu o coração: era necessário colocar uma cerca à volta do terreno, uma vez que os vizinhos começam a aparecer. Desde Bogotá chegou a boa-nova que tinha entrado no nosso fundo uma pequena ajuda económica para a missão e nem pensamos duas vezes. Falamos com alguns locais para ver quem nos poderia ajudar e acabamos por entregar o trabalho a uma simpática família evangélica (protestante), o Sr. Alcides a liderou a comitiva. Após uma semana já tinha cortado toda a madeira necessária, comprou-se o arame farpado e começamos o trabalho no terreno. Sim, começamos, pois eu (Copi) voluntariei-me para ajudar, o que significou levantar-me alguns dias às 5 de manhã... O resultado foi satisfatório e esperamos que dure muitos anos.



Da mesma maneira, surgiu a oportunidade de começar os trabalhos para a concretização do projeto “Uma Maloca para todos”. Dar início significa começar pelo mais básico: a areia. Pois é, devido a algumas razões, entre as quais a proteção do meio ambiente, tivemos que optar por construir a maloca em cimento pois para fazer uma maloca em madeira com telhado de palmeira seria necessário abater muitas árvores (cerca de 10 árvores e 100 palmeiras).
Felizmente estamos em tempo de Verão, que por estes lados significa que não tem chovido muito e que o rio está baixo, criando uma imensa praia que permite recolher areia. É um trabalho muito duro e também muito caro, mas graças a Deus, tínhamos a tal verba que chegou no sapatinho. Falamos com Christian Artidoro, um novo amigo de Soplín, e ele ficou encarregado de contratar as pessoas necessárias para o trabalho e, mãos à obra. Rapidamente o monte de areia começou a crescer, estando neste momento quase completa a recolha. Como não há fonte de emprego em Soplín, infelizmente o trabalho não chegou para todos, mas o mais importante é que alguns beneficiaram e outros beneficiarão quando seja necessário mais areia.



É com muita alegria que damos este primeiro passo para a tão esperada “Maloca para todos”, um lugar que necessitamos para desenvolver o trabalho missionário de uma forma mais eficaz e também mais familiar. Ainda falta tempo e dinheiro até tudo estar concluído mas o que não nos falta é a esperança de que vamos conseguir!